O ENEM e a geração do lacre

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É a geração do lacre. Ela não para. É dinâmica, ágil, absolutamente fútil, irresponsável e pueril. Dentro de suas cavernas digitais, a bolha se retroalimenta.
 
O professor de português abandona seu dever para com o nosso belíssimo idioma, pelo lacre. O de filosofia, idem. São todos, antes de brasileiros, antes de seres humanos, antes de João ou Maria ou Manuel@, lacradores. Prestam contas e continência à mesa do boteco chique, às rodinhas do comissariado politicamente correto. Abriram mão de suas individualidades pelo conforto do pensamento de manada. É, do ponto de vista existencial, uma tristeza. Como educadores, é um crime, num país cujos índices de educação deveriam ser motivo de vergonha absoluta.
 
Diante da possibilidade de exaltar o português para milhões de candidatos do ENEM, o lacrador precisa, antes de testar o próximo, provar sua lealdade junto ao “movimento”. Pensa, reflete, acha que o mundo o alçará a condição de mártir, põe na balança e resolve ceder: inventa uma questão com o “Pajubá”, dialeto ‘secreto’ de “gays e travestis”.
 
Pelo lacre, por juras de amor ao abstrato pensamento progressista, ofende os gays e travestis. Ofende, pois os coloca em uma prateleira de rótulos e generalizações. Quer que todo homossexual seja, como ele, um escravo do lacre, um discípulo temeroso do politicamente correto. Não dá aos gays a possibilidade de serem indivíduos como somos todos. Ou deveríamos ser.
 
Na mente doentia de um lacrador, o Fulano não é engenheiro, jogador de biriba, fã de Game of Thrones e, também, gay. Não. É “o Fulano é gay”. É de um reducionismo cruel.
 
Diversas outras questões do ENEM foram divulgadas nas redes sociais. Um verdadeiro banquete de clichês. Consigo visualizar o autor das pérolas enviando um whatsapp para o outro amigo lacrador, prestando contas: “Viu, viu? Minha pergunta revolucionária, de resistência, anti-patriarcado, foi aprovada e milhões de alunos foram expostos a isso, viu?”.
 
Às favas com a educação.
Às favas com o juramento à língua portuguesa.
A gente vamo é lacrar em Pajubá!