Brasil: uma nação de escravos sob o olhar vigilante dos urubus.

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Imagine (all the peo…, brincadeira) uma infiltração no canto direito de seu quarto, como naqueles filmes de terror, escura como uma jovem pantera.
 
Você pega uma escada, sobe na laje, e nota que a caixa d’água está furada. Uma nova custaria R$250 e chegaria por Correios, se houvesse um milagre, em 15 dias.
 
Mas…você é um gênio! Não pode ser apenas este buraco na caixa d’água, não! Há de ser algo mais.
 
Compra R$2.000 em materiais para investigar o assunto.
Chega a 15 conclusões diversas e conflitantes. O buraco inicial e a atuação da gravidade não mais lhe saltam aos olhos. Você cogita até a atuação de aliens vagabundos no telhado de sua morada.
 
Contrata especialistas em manchas escuras feitas por aliens ociosos, gastando mais R$15.000.
 
Dorme no relento. A infiltração só piora.
 
O cérebro vai a milhão, como o de um cocainômano, lhe impedindo de, vá lá, não mais comprar uma maldita caixa d’água nova, mas uma silver tape de R$5, na esquina.
 
Funda 3 coletivos de vítimas de furos alienígenas e processa a União. Dançam ciranda em volta do filete d’água e chamam a imprensa. Criam o sindicato de vigilantes de infiltrações causadas por aliens, o SVICA, que recebe dinheiro público.
 
É isso, há décadas, que a esmagadora força de homens e mulheres pensantes do Brasil fazem com as questões mais relevantes do país.
 
O salário dos transexuais da cidade de Parnaíba são defasados em relação aos salários de homens brancos obesos de olhos claros de uma colônia alemã do sul do país? Vamos convidar especialistas, do Estado, causador de todos os males, para bolar uma solução.
 
Porque dar liberdade econômica para um povo como o nosso, pensam, é perigosíssimo. Vai que, imaginem!, a dona Josefa, de Vilar dos Teles, decide que não quer mais ser funcionária pública e resolve abrir uma empresa. Pior: a revolucionária Josefa agora, que audácia, quer empregar pessoas de sua região. Pessoas pobres, meu Deus. Onde vamos parar com esta mulher desenfreada? Vamos aumentar os impostos. Vamos criar “direitos” para que Josefa volte para o seu sofá, sua novela e seu alpendre de cerâmica velha, que custa caro pra trocar, e que ela odeia, mas que, sob os olhos dos nossos intelectuais, é tão “romântico” sob o pôr-do-sol, de tirar uma selfie e pagar para publicar na coluna direita do G1, com alguma frase reflexiva achada no Google em 10 segundos.
 
E os negros? E os gays? E a CLT? E os feminicídios? E o item 45, caput, da Lei 14.394, de 1924, que versa sobre os direitos de mergulhadores cegos no oceano atlântico, candidato?, o que o ser pensa sobre isso? Perguntarão, nas próximas eleições.
 
Segurança e respeito à propriedade privada trazem estabilidade.
 
Estabilidade — Boulos, o Sr. está me acompanhando? Atenção! — traz terreno fértil para empreendedores. Empreendedores geram empregos e riquezas. Em bom português, Guilherme, dinheiro no bolso de todo mundo.
 
Sim. A riqueza, acredite, contraria as leis da física e se cria! E milagrosamente se multiplica. Dinheiro no bolso? Mais consumo. Mais consumo, mais dinheiro para investir em educação, segurança e saúde.
 
Esta tríade não é apocalíptica, ela é libertadora, pois tira os cidadãos das amarras do Estado, quer sejam funcionários ou recebedores de bolsas A ou B, e lhes dá algo considerado um detalhe no Brasil: liberdade.
 
Negros, gays, trans, heptassexuais, mulheres gostam de liberdade, dinheiro, educação, saúde, poder de compra e, surpresa, estar vivos! Porque uma vez mortos, o único especialista que vai lhes visitar será o legista.
 
Então, quando vejo estes gênios e suas soluções para a infiltração no teto, que dura, repito, décadas, só resta chorar sobre a água derramada. É tudo tão óbvio, mas tão óbvio, que claramente é feito de propósito para dar errado. Há cálculo e maldade nesta perpetuação da miséria.
 
Eles, estes infiltrados (não resisti), sabem o poder da liberdade. Não apenas isso: eles descobriram como viver e sobreviver às custas de pesadas bolas de ferro estatais no calcanhar de Aquiles de Donas Josefas pelo país afora. São eleitos assim, enriquecem assim. E dormem tranquilamente à noite, estes urubus eternos.
 
…e a água continua a escorrer, lá naquele canto alto…talvez, só talvez, seja um laser emitido pela NASA que rompeu o teto, sob comando da CIA. Vamos chamar o Lula para investigar?