Aos odiadores dos seres-humanos: busquem a Beleza.

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Gosto de observar grupos de esquerda, aqui no Facebook, além de receber pérolas que amigos me mandam por Whatsapp — com o único objetivo de me irritar, claro.

Mas o que se sobressaiu, nesta quarentena, foram alguns personagens com tamanho rancor da sociedade que desejam o planeta sem seres humanos. O dizem com palavras singelas e emoticons fofos — no estilo ‘menos ódio, mais amor’. Num dos grupos, uma entusiasta bióloga da UFRJ condenava àqueles que criticavam o Partido Comunista Chinês na crise da COVID19. Segundo ela, não apenas a culpa não podia ser atribuída aos bravos democratas chineses, mas ao contrário: era tudo culpa do imperialismo americano.


Pois são os Estados Unidos da América o maior local de mercado negro de aves e mamíferos em extinção (eu não sabia que morcegos estavam em extinção, mas quem sou eu para discordar de uma docente?), e, portanto!, este mercado negro estimulado pelos Imperialistas americanos seria o verdadeiro culpado por tudo relacionado às últimas pandemias — inclusive o COVID19. Claro que, não resistindo à tentação, culpou Trump pelos outros 99% dos problemas do planeta, fazendo paralelos entre morcegos, petróleo, Irã, Cuba, e, por fim, Bolsonaro. Uma linha de raciocínio que beira o labirinto do Minotauro, o grego — e não o lutador de UFC.


Mas a parte realmente encantadora é quando essa turma, em suas discussões internas, culpam o ser humano em si por tudo. Porque nós, seres humanos, não valemos nada. Somos destruidores deste planeta lindo. Somos a escória da galáxia; o lixão de Gramacho da Via Láctea.
Como o mundo seria formidável, belo, lindo, maravilhoso se fosse deixado às araras-azuis, aos morcegos, às antas e ornitorrincos. Não haveria lixo, tampouco poluição. Que dirá de plástico nos oceanos. Nada disso. A natureza imperaria plena.


Minha vontade é a de sugerir a leitura de “O homem eterno”, de G. K. Chesterton, mas não tenho coragem. Provavelmente seria fuzilado nos paredões-virtuais da UFRJ. Lá, nesta obra, bem no comecinho, há uma metáfora brilhante, que resumirei e adaptarei ao nosso famoso pássaro ‘joão-de-barro’ para não cansar o leitor: ” (…) pois imaginem que um observador começasse a ver um joão-de-barro fazendo seu ninho cuidadosamente com galhos bifurcados, e folhas pontiagudas, para expressar a piedade lancinante do Gótico; (…) feito sobre seu ninho um jardim, em homenagem aos jardins suspensos, como os da Babilônia; que este pássaro, com barro, tenha feito pequenas estátuas de outros pássaros celebrados nas literatura ou política e as colocasse na frente deste ninho” — diante disso, tal observador, estupefato, já não olharia este pássaro como uma mera ave, mas como uma prova de que Algo Maior existe.


Estes adoradores da quarentena, e odiadores da raça-humana, só focam no lado obscuro de todos nós. E este lado, claro, existe: no assassino, no pedófilo, no sequestrador, no estuprador, enfim, em toda sorte de maldades que o homem é capaz. Mas esquecem-se das maravilhas que a mesma espécie foi capaz de criar. Estão surdos para as obras de Mozart e Beethoven; estão cegos para as obras de Michelangelo e da Vinci; não tem o paladar que glorifique uma boa cerveja gelada, um queijo da Serra da Canastra; o aroma de uma madeleine, a mesma que inspirou Proust; viraram, de súbito, analfabetos para todos os clássicos literários produzidos pelo homem. Shakespeare? Quem foi? Meio-campo do Liverpool? Dostoiévski? Isso é remédio para dormir? Ignoram tudo isso porque tem ódio de si mesmos. Viraram cínicos. É como tratam a Igreja Católica: um bando de queimadores de inocentes na fogueira, um bando de pedófilos e ponto final. O gigantismo da Igreja, que literalmente nos trouxe até aqui, é ignorado — muitas vezes por estudantes de universidades particulares…católicas.


Estas pessoas esquecem que entre o nascimento e o dia do reencontro com Deus, este intervalo absolutamente assustador para todos nós, mesmo para os fiéis mais convictos, pode-se escolher o caminho de um Ennio Morricone ou se sentir tão incapaz que prefira um planeta entregue às iguanas, golfinhos e ursos-polares. Por ódio ou desconfiança de si mesmo, repito.
Quem sabe, também tenho vontade de perguntar, se este cinismo desta turma não tem a ver com os últimos tempos do mundo, onde Deus — este ser reservado apenas aos iletrados, aos ignorantes, aos ingênuos, aos caipiras, às donas de casa subservientes, aos moradores do interior, na visão arrogante deles — foi morto. Morto, para o homem, como massa, como coletivo, ser endeusado. Mas, agora, parece, também se cansaram de sua própria criação, com ‘c’ minúsculo, e nos querem jogar fora. Porque não dá para nos reciclar.


Aos adoradores da quarentena, aos fãs da COVID19, aos fiéis do álcool em gel 70%, me perdoem o desabafo, mas tenham um pouco de fé. Se não em Deus, em si mesmos. Construam algo, busquem a Beleza, e parem de pensar tão apenas em destruir.

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