Análise: Jair Bolsonaro no Jornal Nacional

0
1690
Em 28 minutos, o mais importante Jornal deste país, onde orgulhosamente meu pai foi editor de política na década de 80, e que tem em sua equipe os maiores e melhores da área televisiva, trabalhadores incansáveis dos bastidores, me convenceu, no maior paradoxo que testemunhei ao vivo, a votar em Jair Bolsonaro.
 
Escreveria, em breve, um artigo fazendo a metáfora de um náufrago que, desesperado de sede, acaba por beber a água salgada que o mataria — em alusão a ter de escolher votar em Bolsonaro. Tenho no meu coração, que muitos de seus eleitores pensam assim, ainda que sem perceber.
Este artigo, muito provavelmente, não será mais necessário.
 
Por quê, João, tamanho exagero na “água salgada”? Explico:
há dois dias, escrevi que a solução eventual para este país seria o Federalismo. É nisso, e tão somente nisso, que acredito. Perdi a fé no presidencialismo com 200 milhões de pessoas sob a foice da União.
 
Fôssemos um país normal, com alternância de poder entre esquerda e direita, eu estaria feliz da vida escrevendo ficção. Mas, depois de décadas de hegemonia esquerdista — rompida por um solitário pensador chamado Olavo de Carvalho, que quebrou o dique da represa, permitindo que pessoas como eu tivessem o caminho aberto, inclusive para criticá-lo — é impensável cogitar devolver o poder a estes quadrilheiros da esquerda. Menos de 2 anos após Dilma sair do Palácio do Planalto, rindo, com um país em ruínas lhe assistindo.
 
O que temos no Brasil não é um esquerdista social-democrata que entende a liberdade de mercado moderada e tenta, ainda que ingenuamente, criar num país continental um “welfare state”. Temos aqui o que há de pior no espectro canhoto: no partido nanico, o PSOL, simbolicamente colocam um pau mandado de Lula e invasor de propriedades privadas. Não há país no mundo, bem sucedido, que desrespeite algo tão básico quanto a posse de terra e, acima disso, da própria vida, a maior propriedade de cada um. Temos, preso, Luis Inácio Lula da Silva. E sua marionete da ciclovia, Haddad, que simula um “equilíbrio” entre o PSDB aceitável e a representação da “nova esquerda mais moderada”, mas que, na prática, é cúmplice e sempre foi de toda esta picaretagem de seu partido e heróis. A esquerda fora da esfera política é ainda mais forte, e, na minha opinião, ainda mais canalha, pois tem uma influência esmagadora nos rumos do debate.
 
Quem manda no país são pequenos grupos, patotas, geralmente de vagabundos, sindicalistas, achacadores dentro do Parlamento e fora dele, e um corporativismo desenfreado em todas as profissões. Todos querem ganhar, ninguém cede um milímetro; em especial os que dizem se preocupar com o “coletivo”.
 
Sonho acordado com uma espécie de Churchill reencarnado, um estadista como Reagan com sotaque mineiro, um homem ou mulher com fibra, articulação, inteligência, humor, habilidade na comunicação, profundo conhecedor de história política e da humanidade, e conhecido pela população, mas é como se eu só torcesse para o Botafogo se o Messi fosse contratado. Por enquanto, torço tendo de aturar o Lindoso.
 
Na bancada do jornal, Bonner começou bem, fugindo, felizmente, dos temas que ninguém aguenta mais, mencionados em post anterior aqui nesta página. Em menos de 10 minutos, em rede nacional, com a economia dizimada, estou tendo de ouvir sobre “direitos dos trabalhadores”, como se, em 2018, alguém minimamente honesto intelectualmente não soubesse que a CLT é a maior inimiga de qualquer funcionário, e que o Estado é o maior vilão neste roteiro cruel.
 
Depois, foi a parte de igualdade salarial. São 2 formas, básicas, primitivas, de exigir intervenção estatal com chicote sobre a iniciativa privada. Assim como o Estado pode chegar pra empresa A e “exigir” um salário igual para mulheres, o que provocaria uma demissão em massa assombrosa, tal precedente permitiria ao Estado se meter em outras questões como censura na imprensa, etc. Tudo, claro, “pelo bem das trabalhadoras e trabalhadores”. É tão primário, que chega a dar pena. E não vi isso num jornal de faculdade, foi no maior jornal da TV brasileira. Basta ver o que fizeram na Venezuela, nem precisam enfrentar livros empoeirados sobre União Soviética.
 
É triste, mas deprimente mesmo, que pessoas estudadas, inteligentes, não percebam que recorrer ao Estado para resolver problemas criados pelo próprio é como cheirar cocaína para aplacar uma overdose.
 
Foram para a questão de homofobia. O assunto é tão insuportável, pela repetição, que o número de homofóbicos reais deve aumentar a cada dia no Brasil. Quem vê o jornal deve pensar que estamos no Iêmen.
 
No fim, citando o Gen. Mourão, mostram-se, com razão, assustados com a frase dele, do ano passado, sobre, em português claro, dar um golpe caso o STF continuasse a jogar o jogo dos ratos. Novamente: num país normal, isso jamais seria cogitado. Mas aqui, num país de 200 milhões de habitantes, onde nossos 2 ex-presidentes demonstram simpatia quase fetichista por ditadores esquerdistas, com empréstimos do nosso dinheiro para todos, o recado do General, à época, fez-se necessário, infelizmente. E eu duvido, mesmo, que o próprio tenha se sentido feliz tendo de falar aquilo. Quem entende o contexto, se deprime. Não há alegria em ter de cogitar saídas absurdas para um país inteiro.
 
O Brasil, há muito, está doente. Com a cumplicidade da imprensa, infelizmente. Um presidiário é colocado nas pesquisas, e levado a sério. Condenado e vivendo num AirBnb da Polícia Federal. Pablo Escobar teria inveja do tratamento. Não há normalidade institucional no país. Há lampejos, voos de galinha, flashes de democracia, e…só. É como contemplar um fogo de artifício e achar que aquela bela luz durará pra sempre.
 
Sabemos que o Parlamento nunca irá cortar na própria carne e pulverizar seus poderes. É corrupção moral e financeira que não acaba. Ano passado PT e PMDB fingiam estar discutindo. Hoje, fazem aliança descaradamente. Aécio Neves, que se escondia atrás da cortina da mansão em Brasília, ontem começou campanha. Deveria estar enjaulado. Dilma, idem. Ambos lideram intenções de voto para deputados, em Minas Gerais. No Rio, Garotinho parou de dar show na ambulância e já está nos debates — bem vestido.
 
Diante de tudo isso, o sonhador aqui morre, e já sabe que Bolsonaro não se expressa bem, que não entende de economia, que ficará refém do Paulo Guedes (um gênio, diga-se, e homem honrado e fiel ao país), que provavelmente não terá controle do Congresso, que pensa, no geral, abaixo do que o Brasil merece. Que poderia, na comunicação, destruir seus inquisidores, de forma irônica, suave e com maestria, mas fica tão tenso que se atrapalha, dando a vitória, momentânea, ao questionador.
 
Daí olho para a frente e vejo na tv: uma ilha de ilusões nas perguntas, e eu jurava que não cometeriam tal erro, e um sujeito simples dizendo o óbvio: bandido tem que tomar tiro. Não dá pra se meter em empresa privada. Confio no meu futuro ministro. Sou honesto num meio onde quase ninguém é. Vejo seu homem de confiança na economia, e lembro dos últimos de Lula e Dilma: Mantega e Palocci. No meu íntimo, acho que Bolsonaro jamais imaginou que seria candidato viável à Presidência. Estaria bem no Congresso fazendo oposição aos esquerdistas, foi meu voto como deputado exatamente para isso. Mas se vê, agora, no meio de uma pátria em frangalhos, tentando, com suas ferramentas simples, dar um recado que não sucumbiria ao poder. Homens gigantes prometeram o mesmo e…falharam. Mas não posso deixar de admirar a ingenuidade, no bom sentido, do candidato. Principalmente sobre achar que terá controle do Congresso.
 
É este o sujeito que temos para vestir a 10 e comandar o meio-campo, no lugar de psicopatas esquerdistas ou cúmplices medrosos da social-democracia? Então vai lá, e tente fazer seu melhor. Há milhões ao teu lado e com uma fé gigante sobre seus ombros.
 
Consciente, e me parece que há pessoas ao redor dele que sabem deste fato, que sem Federalismo, para os bem intencionados, tudo não passará de outro voo de galináceo. O presidencialismo atual, com Haddad, Marina, Ciro e similares seria desejar a 200 milhões de brasileiros o inferno, e eu jamais seria tão desumano.
 
Não esperem de mim um torcedor. Jamais.
Ao contrário: serei extremamente crítico, pois não vejo nele a figura de mito ou salvador da pátria, pelos motivos já ditos. Invejo, e admito abertamente, quem vê na figura dele alguém capaz de mudar os pilares do Brasil. Eu perdi a fé em qualquer homem ou mulher que, sozinhos, digam que o farão.
 
Se este homem for à Brasília, e sabotar o poder, fazendo o impossível para que cada estado tenha autonomia, ele se tornaria o maior presidente desta triste e carcomida República.
 
Boa noite.