A manifestação que a imprensa não quis ver – o verdadeiro 16/8

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Foto: Silvio Medeiros (SP)

Escrevo este texto porque, uma semana depois das manifestações do último dia 16, nenhum articulista da grande imprensa conseguiu perceber — por falta de observação ou má intenção — o que se passou nas últimas manifestações Brasil afora. Eles também não entenderam nada nos dias 15 de março e 12 de abril, mas ainda havia, naquele momento, a desculpa de ser  algo ‘novo’. Desta vez, não, não foi algo novo. Como poderia, então, a imprensa não dar voz às milhões de pessoas que foram às ruas com a melhor das intenções? O jornal El País, por exemplo, debocha todos os dias das manifestações. E diz que na 5a feira última (20), a “esquerda tomou as ruas”, uma mentira desvairada. Os seguidores ideológicos da esquerda, como sempre repetindo seus líderes ‘intelectuais’, dizem que as manifestações foram de uma elite branca e rica. E fascista. E saudosista dos tempos de Médici, Geisel, Castelo e Figueiredo. Somos fãs do pau de arara, dizem. Somos limpadores de privadas de americano. Somos reacionários (quem reage são eles…). Somos preconceituosos, nazistas, racistas, homofóbicos e, claro, fascistas.

E minha cabeça tenta avaliar tais acusações de uma forma fria, racional, o que confesso ser um exercício de extrema dificuldade, mas consigo: lembro que há uma semana, pela 3ªa vez em menos de 5 meses, estava no alto de um carro de som em Copacabana, sob um sol violento, desabafando sobre coisas básicas contra o PT, e de lá tinha visão privilegiada sobre os transeuntes ao redor. Negros, brancos, pobres, ricos, com ou sem celular de marca, com ou sem óculos de marca, mas estes detalhes interessam somente ao esquerdista, porque para mim não fazem a menor diferença. Eu não posso reconhecer e conhecer o caráter de uma pessoa por sua vestimenta ou renda mensal. Mas esses personagens que eles acusam de estarem ‘de fora’ dos protestos, estavam lá. Havia um jovem que se auto-denominou pobre, negro e morador de São Gonçalo, Rio de Janeiro. E lembro claramente quando ele disse: “Se eu sou elite branca, então eu já não sei de mais nada”. E nesta frase encontro a síntese do que já sabia: não interessa ao PT, à elite política do Brasil e tampouco à esquerda, admitir que os protestos foram de uma mistura de brasileiros. Significaria, para eles, a admissão de uma derrota. Quer ideológica, quer financeira, porque teriam de abandonar o poder e quem abandona o poder perde o instrumento mais eficaz de persuasão: o dinheiro.

A verdadeira elite não estava nas ruas, a verdadeira elite do Brasil estava na cobertura à beira mar de Copacabana (Graça Foster), estava em seu tríplex do Guarujá (Lula), a família da elite branca estava na mansão em Vinhedo, SP (Zé Dirceu), estava usando o dinheiro em rinha de galo (Duda Mendonça), estava chegando em casamento de milionário em carro importado (Rui Falcão), estava andando de Land Rover (Silvinho Pereira), estava principalmente no Palácio do Planalto, com R$ 100 mil debaixo do colchão (Dilma Rousseff).

Hoje, confirmo minha teoria sobre a verdadeira elite estar satisfeita com o PT no poder. O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, tem mais de 5 bilhões de motivos, só no primeiro trimestre de 2015, para defender Dilma, e o fez. Disse que “não há motivos para tirar Dilma do cargo“. Para o dono de uma empresa que lucrou 5 bilhões em três meses, a situação é uma maravilha, para uma dona de casa do interior do país, se o arroz sobe 20% e a luz 28% a situação é caótica.

São essas pessoas, tocadas direta ou indiretamente pela crise moral, financeira e legal no Brasil, que saíram às ruas no último dia 16. Quem está com a vida ganha de tanto roubar dinheiro do pagador de impostos não tem razão alguma para botar um chinelo e ir protestar, eu entendo. São as pessoas mais pobres, como sempre, as mais atingidas pelo desgoverno e pelo assalto estatal criado e executado pelo Partido dos Trabalhadores. O mesmo PT que empresta bilhões aos compañeros latino americanos bolivarianos, mas joga todos os custos da própria culpa no colo dos cidadãos. O mesmo PT que não fez absolutamente nada pelo Brasil, e perdoa dívidas de ditaduras africanas. O mesmo PT que constrói porto em Cuba. Tudo com dinheiro, ressalto, nosso.

Eu nunca imaginei, nem no pior pesadelo, que milhões de pessoas que foram às ruas por um Brasil mais digno, limpo, forte e livre fossem motivo de ironia, deturpação e ódio por parte, inclusive, da imprensa. Nunca antes na História deste país uma manifestação popular foi tão atacada, ridicularizada e menosprezada por aqueles que estão, eles sim, na elite do poder do Brasil. Manifestação que não usou um centavo de dinheiro do contribuinte. Ao contrário da ‘Marcha das Margaridas’, que custou ao nosso bolso R$800 mil. Ao contrário da CUT, que só em 2015 recebeu mais de R$5 milhões do nosso dinheiro.

E lembro, novamente, de Copacabana. Dos personagens que, sem cartazes pedindo a volta dos militares, foram renegados pela imprensa, e que levavam gritos escritos e silenciosos contra o comunismo, a corrupção, contra o Sarney, contra o Eduardo Cunha, contra o Renan, a favor da liberdade, a favor da imprensa (!), a favor do Sérgio Moro e da Polícia Federal, a favor de Joaquim Barbosa, cartazes sugerindo que tenhamos ‘menos Marx e mais Mises‘, ironizando os socialistas que passam férias em Paris com um bom vinho. Personagens com filhos no colo, cadeirantes, velhos, novos, meninas e meninos de diversas regiões se unindo contra os piores valores que tomaram o Brasil de assalto. Essas pessoas, as pessoas que de fato representam o sentimento de indignação, não poderiam, jamais, ficar esquecidas. Mesmo que seja por este humilde blog.

Estas pessoas são elite, sim, mas um outro tipo de elite: a elite moral do Brasil.