A ditadura preferida dos bem-intencionados

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O socialismo tem uma ideia extremamente atrativa, que é a de fornecer “igualdade”. Ora, quem de nós, bem-intencionados, diante de uma possibilidade real de “justiça” para a humanidade, fecharia os olhos para algo que resolveria a desigualdade, que diminuiria o espaço entre um Bill Gates e o mendigo e seu cão de estimação da esquina? Só um mau-caráter, evidentemente.

E por isso o socialismo, ainda que se apresente sob outras vestes e nomes, ganha mentes e corações dentre os jovens. Eu era um destes. Até ler uma linha aparentemente simples no livro “Memórias de Subsolo”, de Dostoiévski, que em dado momento dizia: “(…) toda a obra humana realmente consiste apenas em que o homem, a cada momento, demonstre a si mesmo que é um homem e não uma tecla (de piano)!”; num contexto onde o personagem faz um desabafo sobre a impossibilidade de padronizar, etiquetar e rotular a humanidade como se fôssemos latas de sardinha. Morria ali a minha ilusão de encontrar, numa fórmula mágica criada por homens, a solução para a Humanidade.

E quando um governo totalitário consegue quebrar a regra Divina da individualidade, para forçar seus habitantes a serem “teclas de piano”, é quando o que há de pior no coração do homem, palco da batalha eterna entre o bem e o mal, para citar o mesmo autor russo, aflora. A igualdade, vendida pelo socialismo, é real, mas em outro aspecto: terminam, todas as experiências com as vidas alheias, em iguais condições de fome, miséria, morte e corrupção.

As cenas que chegam da nossa vizinha Venezuela são chocantes. O socialismo do século XXI, como Chávez orgulhosamente o batizou, é tão nefasto e cruel como o do século anterior. Relatos de torturas, de prisões sem motivo, a não ser a discordância política, assassinatos de inocentes à luz do dia, tudo exatamente como narrado por A. Soljenítsin, escritor preso num dos Gulags soviéticos, em seu livro “Arquipélago Gulag”. Em dado momento, ele cita 31 itens de métodos psíquicos de tortura, sendo que o 27º explica o “espancamento sem deixar vestígios”. Uma arte do mal. Arte do mal na União Soviética, na Coréia do Norte, em Cuba e, agora, às claras, na Venezuela.

Se há algo de diferente entre os totalitarismos históricos é que a tecnologia capitalista permite, hoje, que os celulares sejam testemunhas, ainda que receosas, evidentemente, das violações aos direitos humanos. E com os vídeos e relatos que chegam do nosso vizinho, existem aqueles, protegidos por toda série de confortos — geralmente bancados por pais amorosos que jamais imaginariam que seus filhos se tornariam cheerleaders de ditadores — que insistem na cumplicidade com o sanguinário Maduro. Sempre, claro, com o título nobre de “lutadores por um mundo melhor e mais…igual”.

Quando descarta-se, por ignorância e ingenuidade, os jovens socialistas que sequer sabem o que é pagar um boleto no final do mês, sobram os cúmplices que não têm o direito de alegar desconhecimento moral e prático sobre tudo que apoiam. E para estes, intelectuais, políticos, partidos e artistas de esquerda, guiados por um egoísmo mesquinho, por uma insegurança pessoal só comparável às suas covardias, que justificam o injustificável, que criticam a repressão mas só até a página dois, que posam de oprimidos representados por um ditador como Maduro apenas para preencher o vazio de sua existência e ganhar likes no Facebook, e cumprimentos no boteco chique da faculdade, para estes, senhoras e senhores, resta apenas um lugar para suas consciências: o fundo da lata de lixo da História.