Sérgio Moro no Fantástico: desperdício de oportunidade.

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Diante de você, Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça, um dos responsáveis pela maior operação anti-corrupção na história do Brasil. Ele foi entrevistado pelo Fantástico, ontem. Com todo respeito à jornalista, e desejo fazer uma crítica construtiva, mas…
 
…você pergunta sobre o crime organizado, como PCC, CV ou FN? Não. Isto é um mero detalhe. Advogados sendo usados como pombos-correio descaradamente pelos líderes das facções? Também irrelevante. O próprio Moro ter sido ameaçado? Bobagem.
 
Pergunta sobre medo de que o próximo governo persiga implacavelmente mulheres, negros e homossexuais (esqueceu os índios!)?
Claro. Afinal, todo dia consigo visualizar a equipe de Bolsonaro discutindo a criação de uma Gestapo anti-LGBTQ+.
 
Pergunta sobre a extradição do terrorista Battisti?
Não.
 
Pergunta sobre a declaração do futuro governador do Rio e supostos tiros de sniper em traficantes?
Evidentemente que sim. Moro respondeu que não é assessor de Witzel.
 
Pergunta sobre as maravilhosas ideias de punir com mais rigor crimes mais graves?
Não. Também mero detalhe. Crime grave no Brasil acontece na mesma frequência que na Suíça, melhor deixar pra lá.
 
Pergunta sobre “estudos indicam que armas de fogo trazem mais violência”?
Claro, não podia faltar. Uma dica sincera: em época de “direitos”, é elementar o direito à defesa, pouco importando se resolverá ou não o “problema de segurança pública”. Se assim for, será um bônus, mas não é obrigação do cidadão. É direito de quem quiser ter uma arma — caríssima, diga-se — dentro de casa. Ah, Moro disse ser favorável e ainda afirmou que tem uma dentro de casa. Meu Deus, o horror! O juiz tem uma pistola na cabeceira. Onde vamos parar?
 
Pergunta sobre a criminosa “política do desencarceramento”?
Não. Pois saibam que o STF já decidiu que presidiárias mães de filhos de até 12 anos (sem condenação, ok, entendo, mas que cada caso fosse analisado individualmente) sejam colocadas em “prisão domiciliar”. Mais de 9 mil mulheres poderiam ser beneficiadas (leia matéria de hoje no jornal O Globo: https://glo.bo/2Ff4ErG). Fora os benefícios únicos e exclusivos de presidiários brasileiros, como indultos e visitas íntimas.
 
Pergunta sobre o Brasil estar inundado de drogas vindas de países vizinhos, sendo porta de saída para Europa, e eventuais soluções como futuro min. da Justiça?
Não.
 
Pergunta sobre redução da maioridade penal em tom de preocupação com “nossas vítimas da sociedade”?
Claro. Quase me emocionei.
 
Pergunta sobre MST e MTST, por ex., serem tratados como organizações terroristas?
Também não.
 
Com raríssimas exceções, as entrevistas se tornaram isto: um apanhado de mesmice e de repetição. Mais para “dizer que toquei em temas polêmicos”, do que para trazer informações novas ao telespectador. É pena. Alguns dos temas que mencionei estavam na introdução do próprio Fantástico, com pautas mencionadas pelo juiz na sua coletiva da semana passada. Bastava ter mergulhado nestes assuntos. Fazer perguntas espinhosas sobre futuro político, sobre a preocupação do julgamento de Lula ser visto com desconfiança por determinados setores da sociedade, ok, precisam ser feitas mesmo, mas 2/3 do tempo foram mais do mesmo.

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