O silêncio dos não inocentes sobre Olavo de Carvalho.

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Em 2015, ainda nos primeiros mas já imensos protestos contra o governo Dilma, surgiam, espontaneamente, cartazes fazendo referência a Olavo de Carvalho.
 
As emissoras, todas, os filmaram por diversas vezes. Viram o mesmo que eu vi, ainda que à distância. Estranho foi a não existência de uma pauta dada virar matéria: quem diabos é Olavo de Carvalho?
 
Se diante de um momento histórico, começo a ler “Jeremias tem razão”, é evidente que vou descobrir quem é o Jeremias, onde ele está, o que e quando fez. Simples. Aula 1 do jornalismo — depois de fumar maconha no corredor.
 
Mas aqui, terra onde a inveja e o disse-me-disse quase que vem na Constituição, foi… só o silêncio.
 
Ignoraram um fenômeno espontâneo, porque, na primeira pesquisa no Google, devem ter se deparado com itens que causam alergia imediata nos jornalistas atuais: conservador e auto-didata.
 
Mais do que o culto à ignorância, vejam o endeusamento de Lula, o brasileiro ama o tal do “diploma de doutor” na parede. O Doutor pode escrever: “A gente vamo?”, mas o que importa está emoldurado e carimbado. Selado. Registrado. Não é fake news, é uma fake existence comemorada.
 
E “conservador”, por aqui, era, e é, mais mal visto, por esta trupe, do que assassinos de bebês tartarugas do projeto Tamar.
 
Só pelo fenômeno editorial que é, em volume de vendas de livros numa pátria de iletrados, falando sobre temas considerados “chatos” pela população “normal”, deveria ser pauta.
 
Isso porque não estou sequer pedindo a honestidade intelectual de que um sujeito reconheça que, há décadas, como no “Imbecil Coletivo”, um sujeito, sozinho, deu o diagnóstico para estes comportamento todo. Com humor.
 
Também não peço, e muito menos espero, que vejam que este mesmo sujeito, lá do meio do nada, está pautando todos os candidatos nesta eleição. Quer para se distanciarem dele ou pra o abraçarem.
 
Olavo saiu dos nichos intelectuais e caiu para o famoso “povão”. Imagine a inveja que isto não causa num sujeito que escreve para 10 alunos marxistas sobre as razões dos oprimidos pelo capital em 1902. Ou até para quem tem a maior emissora na mão e ainda assim perde no Ibope.
 
A desonestidade intelectual não está no legítimo direito de não concordar ou até não suportar Olavo de Carvalho. Mas de ignorá-lo ou censurá-lo.
 
A imprensa tradicional, diante dele, é como um sujeito vendo uma onda de tsunami de 100m de altura na frente de sua varanda, e ele apenas a encara com preguiça, acende um cigarro e continua reclamando que o Uber tem adesivo do Bolsonaro.
 
Imagine comentar sobre a música brasileira dos anos 60 e, por ser conservador, ignorar o Chico Buarque. Posso discordar até a morte, mas não posso matá-lo diante dos acontecimentos. Estou redigindo sobre o fenômeno do humor na internet, menciono o Porta dos Fundos, e, por achar o Gregório um sujeito hipócrita, decido cortar o programa do texto. Por birra. Ou ignoro os Beatles porque tenho preguiça do Lennon.
 
Isso é desonesto. É temer expor o seu leitor ou telespectador aos fatos, para que ele, juiz supremo, decida o que pensar. Não você. Devemos ser a bandeja que leva a comida ao consumidor e não o crítico gastronômico.