O bom, o mau e o vírus

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1886

Parece aqueles filmes de velho-oeste: embaixo de uma árvore castigada pelo sol, um bandido com as mãos atadas para trás, em cima de um cavalo, e com a corda, literalmente, no pescoço. Fora deixado ali para que sua pena fosse ainda mais sofrida. Seu destino dependia de um animal sedento. Quando o cavalo decidisse, seria o fim de sua existência. Passado o susto inicial, o fora-da-lei havia se resignado, não havia pelo que lutar, no que acreditar. Conformara-se. Fora esquecido pelos seus. Estava morto, ainda que respirasse.

No entanto, e não sabia se alucinava, começara a ouvir o que parecia ser um galope — não do seu cavalo, mas de outros, distantes. Uma diligência de um banco rompia no horizonte. Tal situação só poderia ser fruto de sua sede, desespero, medo e ansiedade. Não seria possível tamanha ingenuidade: a de enviarem um carregamento de ouro naquele lugar, sem escolta.

Conforme o barulho das rodas de madeira rasgando o terreno arenoso ia se intensificando, e a respiração acelerada e descompassada dos cavalos chegava cada vez mais perto, naquele nanossegundo seu cérebro enviou a bomba química mais poderosa para que ele reagisse. O instinto mais primitivo aflorava, liberto. Não pensava mais em fatos deprimentes e no seu destino traçado. E, sim, em como poderia assaltar aquele alvo desprotegido. Sua natureza falava mais alto. Parou de maldizer o suor de suas mãos, e agradeceu a Deus, ou ao Diabo, por ele. Conseguiria usá-lo para livrá-las daquelas cordas apertadas de forma um tanto quanto displicentes — viu o gesto do carrasco, de nem dar um nó adequado, como uma última ofensa.
Com as mãos livres, tirou a corda do pescoço, limpou sua testa na manga daquela camisa que mais parecia um trapo, segurou na crina suja do cavalo, e foi perseguir a diligência.

No western brasileiro, o nosso condenado fora-da-lei, Luis Inácio Lula da Silva, teve a “corda” rompida há alguns meses, ainda em 2019, pelo STF. O tribunal resolveu lhe dar esta sobrevida política. Por trás daqueles votos longos, tediosos, com linguagem rebuscada, o maior tapa na cara da sociedade brasileira nos últimos anos.

Hoje, o jornal inglês “The Guardian” publicou uma entrevista com nosso fora-da-lei. Liberto de seu cavalo, no caso uma espécie de AirBnb na Polícia Federal de Curitiba, e destino de condenado, Lula acusa o presidente Bolsonaro de transformar o Brasil num “abatedouro”. O idealizador dos saques atrelados ao Pan-Americano, Copa, Olimpíadas, muito mais importantes do que hospitais e escolas, certo?; o orquestrador dos Mensalões e Petrolões, das obras faraônicas em ditaduras amigas, que roubou da sociedade brasileira bilhões de dólares, e jogou o nosso país no buraco, com sua sucessora da Mandioca, vem nos dar lição de moral.
No cenário atual, não seria surpresa se o governador de São Paulo desse um ‘like’ na reportagem e a compartilhasse em seu Twitter. Bem como outros bem-intencionados democratas. Tudo, claro, na luta contra o novo coronavírus.

Vírus que, para todo o mundo, veio como maldição.
Mas para a oposição política nacional, como benção.