O apagar das luzes de Dilma: o impeachment e os bobos da corte

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Sempre gostei de filmes com tribunais. As cenas de julgamento, o júri, as testemunhas, a mão direita elevada e a esquerda sobre a Bíblia, jurando dizer tão somente a verdade, tudo isso me cativa.

No entanto, a realidade adentra nossa rotina sem pedir licença. Cá estou, no interior do Rio, com o sinal da tv Senado tão ruim quanto a economia que nossa atual-ex-presidente Dilma trouxe: terrível. Não tenho 3G ou wi-fi para publicar este texto após escrevê-lo (consequências indiretas de um país que abomina o livre mercado).

Confesso que os chiados da má recepção da antena são música para meus ouvidos. O ser humano deveria, independentemente de ideologia, reservar um belo espaço em sua consciência para o amor próprio. A honra, a integridade, o caráter e a moral deveriam ser, ainda que minimamente, respeitados. Não é o caso do que vejo, ao vivo.

Apenas observo. Observo atentamente ao que há de mais baixo no comportamento de homens e mulheres, que não apenas se ajoelham para agradar a seus chefes, mas rastejam com menos dignidade que uma lagartixa comum — que estas me perdoem.

É o julgamento do impeachment de Dilma.

Gleisi Hoffman, que não está presa por milagre (e teve de ouvir isso de Renan Calheiros, com outras palavras), Vanessa Graziottin, que deveria ser investigada conforme denúncia que apresentei em meu artigo sobre seus gastos como parlamentar e suspeitas ligações com doadores de campanha, Lindbergh Farias, a bomba de Hiroshima para a cidade de Nova Iguaçu-RJ, Paulo Paim, um cidadão que seria, se o Brasil fosse minimamente normal e racional, na melhor das hipóteses, um animador de circo falido do interior do país, dada sua paixão pela mentira e versões fantasiosas, e Humberto Costa, o mais lagarto dentre os seus amigos reptilianos, com uma devoção patética a quem lhe alimentou nos últimos anos: o PT. Todos, em uníssono, se afinam no diapasão da vergonha. E nem o mais alto soprano seria capaz de atingir tal extensão vexatória. Eles são os Beatles da distorção da verdade.

Reparo no aspecto circense do que vejo: esta patota, que seria expulsa da sala de qualquer colégio do mundo, chama testemunhas para completar a festa no jardim de infância. Mas, fato particular do Brasil, tais testemunhas são professores, doutores, e outros títulos que, supostamente, deveriam trazer um ar de imparcialidade e, ao menos, seriedade. Mas não apenas não o trazem como o sugam de um telespectador minimamente atento. É o vácuo da vergonha na cara.

Para a turma de petistas e suas testemunhas a verdade e os fatos são tão flexíveis quanto borracha quente. Para eles, Dilma não cometeu crime algum. Ao contrário, é vítima da maior conspiração da história da humanidade. Entre os conspiradores estão o pipoqueiro Zé, que foi às passeatas contra ela, até o técnico do TCU que estudou exaustivamente as chamadas pedaladas fiscais, nome romântico para um crime. E num país tão pobre como o nosso, crime gravíssimo. Em ano eleitoral, gravíssimo elevado ao cubo.

A esquerda é mestre, ou era, em reescrever a história praticamente em tempo real. É um talento admirável, não fosse por sua má intenção. As redes sociais e os milhões de brasileiros que saíram às ruas nos últimos dois anos impedem que a nau desta tripulação de meninos e meninas mimados chegue à costa da impunidade.

Cabe assinalar para a história futura, se alguém tiver a paciência ler este texto daqui a uns 20 anos, que incontáveis brasileiros venderam — não sei se por pouco ou muito dinheiro, pouca ou muita chantagem, ou simplesmente por fetiche com o poder — suas dignidades ao que de mais podre o Brasil presenciou.

Dilma e seus micos amestrados deliberadamente enganaram o povo brasileiro. Traíram um país que não aguentava mais ser passado para trás. São os mesmos que criminalizam a Lava Jato, diariamente, e todo ato que vá contra seus interesses. Por isso aplaudem e bajulam suas testemunhas, pois elas se curvam diante da narrativa do governo Dilma: foi um golpe. E golpe contra uma pobre mulher indefesa. Uma guerreira que foi torturada pela ditadura militar. Não satisfeitos, e sem recomendar um Engov, chegam ao ápice dizendo que Dilma pedalou para ‘botar comida na mesa dos brasileiros’. Diante de outro exemplo da testemunha de acusação, que perguntou se um pequeno produtor rural poderia pegar um empréstimo no Banco do Brasil e pagasse quando quiser, com o juros que quisesse, a trupe dos bobos da corte se calou.

Mas o que alegra o coração, ainda que de forma tímida, deste que vos escreve, é saber que cada vez mais pessoas percebem o teatro destes vampiros.

A história, gosto de repetir, os pegará sem delicadeza e os jogará no fundo da lata de lixo.

Com ou sem impeachment sacramentado, tais senadores deveriam quebrar todos os espelhos de suas mansões Brasil afora. Encarar-se, mesmo de relance, não deve ser fácil para eles.