Jair Bolsonaro no Jornal Nacional: gol de placa ou bola para fora do estádio?

0
1245
Jair Bolsonaro, hoje, frente ao William Bonner, no Jornal Nacional, tem a chance, rara, de marcar um gol de placa para o Brasil todo ver. Ou sair vaiado pela própria torcida.
 
Imagino, com quase certeza, que Bonner não será inocente como foram quase todos entrevistadores até o momento, e deixará questões como homofobia, fascismo e similares no passado, o encarando de frente. Provavelmente, no entanto, o tema de ditadura será levantado. Bolsonaro precisa compreender que a menção a esta palavra, em si, em qualquer lugar do mundo, é péssima. O tema é complexo e não será ao vivo, no JN, em 10 segundos, que ele conseguirá explicar nada disso. Espero que saiba driblar a questão e, novamente, pode usar a carta na manga do Roberto Marinho — desde que com humor. Sem agressividade. Exatamente como fez com o único que o interpelou diretamente até agora: Fernando Gabeira.
 
Bolsonaro, nos debates, diante destas perguntas mais capciosas, foi mal. Deu respostas padrão e sem um desenvolvimento maior do raciocínio, como se tivesse decorado o que precisava dizer do início ao fim.
 
Bolsonaro precisa saber que estará falando ao Brasil fora da bolha do Facebook e similares. Ou seja: ao Brasil que provavelmente quer votar em peso nele. Que quer ouvir, em português simples, o porque ele é diferente dos demais que estão nas primeiras posições.
 
Segurança, segurança, segurança, saúde e educação. Em linguagem simples. Falando com calma, sem se exaltar.
 
Explicando, além da mãe que espera que o filho chegue vivo em casa, que é inconcebível, imperdoável, que um bandido entre num ônibus de trabalhadores e leve celulares, caros, que todos ali parcelaram com extremo sacrifício. Que crimes gravíssimos sejam punidos, quando descobertos, com total leniência pelo Código Penal.
 
Seria fundamental dizer ao apresentador que a esquerda, uma vez eleita e de volta ao poder com sangue nos olhos, destruirá, literalmente, a imprensa. E tentará o controle de setores das FFAA. Voltará como vítima dos “golpistas” e das “elites”.
 
Que deixasse claro que a militarização das escolas não pode, por falta de verba inclusive, ser universal e que isso não é o ideal em país algum. Sendo uma medida emergencial, principalmente em capitais, para um país que chegou ao fundo do poço — após décadas de esquerdistas no poder. Em resumo: é uma bandeira específica. Me parece que ele realmente crê que isso, ainda que houvesse grana, resolveria a questão. Escolas militares em zonas violentas, faz sentido para todos. Até para professores.
 
Bolsonaro parece, e posso estar enganado, ter ódio de marqueteiros políticos. Eu também teria, apesar de trabalhar com isso. Mas é urgente que perceba que até a mudança de um terno preto e branco para um azul escuro faz a diferença, principalmente quando, por anos, a imprensa lhe associou ao nazismo, dos uniformes pretos e…brancos.
 
Que mantenha, como tem feito, mas com equilíbrio, a postura de: sobre economia, tenho um dos melhores do país ao meu lado. Assim como na Globo há uma divisão de funções por habilidade, o mesmo se daria no governo.
 
Além do óbvio: redução do Estado (que a maioria da população sequer sabe o que é, mas apenas para marcar o ponto); luta pelo direito do cidadão comum ter uma arma (espero que diga que quebrará o monopólio que vivemos); e, pelo amor de Deus, que irá vender a Petrobras sem sentimentalismo. Os que ali trabalham direito, continuarão empregados. E isso para as demais estatais. Os Correios são uma piada pronta. Basta perguntar ao apresentador se ele confiaria uma encomenda urgente aos cuidados da estatal.
 
Do outro lado, Bolsonaro precisa ver como os adversários estão usando artilharia pesada: um promete perdão aos devedores do SPC, num lance brilhante; o PT vai, promete a mesmíssima coisa, sob nome diferente.
 
Se ficar falando para convertidos, e focado na reação da bolha das redes, Bolsonaro, botafoguense como eu, isolará uma bola quicando na entrada da pequena área.