Governo Bolsonaro: os ruídos na comunicação precisam acabar

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O presidente eleito Jair Bolsonaro concede entrevista à imprensa no CCBB.

Na posse dos novos presidentes dos bancos públicos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, hoje (7), com razão: “Se nós errarmos, vocês bem sabem quem poderá voltar”, se referindo à quadrilha petista. Na última quarta-feira, em entrevista ao Jornal das Dez, na Globo News, General Heleno, chefe do GSI — Gabinete de Segurança Institucional, afirmou que Bolsonaro diz a ele diariamente que o novo governo não pode falhar.

Com base nestas acertadas observações, escrevo este texto. Torcendo para que haja, rapidamente, uma percepção de que a comunicação é fundamental para a presidência do Brasil, especialmente com o acúmulo de poder do governo federal — mal que Paulo Guedes, Bolsonaro e Gen. Mourão afirmaram, em campanha, que combaterão.

Pesquisas indicam alto nível de esperança da população brasileira sobre uma melhora na segurança e economia, em 2019. Bolsonaro teve como pilares na campanha: ser implacável com a corrupção, contra o crime organizado, por uma agenda liberal na economia e conservadora nos costumes. Para atingir tudo isto, é preciso clareza na comunicação de todos os membros do governo. Quando e se acharem que comunicação é preocupação inferior, lembrem-se de Dilma.

Sabemos que não há pauta mais importante para o país do que a Reforma da Previdência. Sem ela, o barco afunda. Sem ela, não haverá dinheiro para comprar um revólver de espoleta para ajudar a combater a violência, que é a pauta central do governo atual. Logo, se ruídos na comunicação de dentro do próprio governo atrapalharem pautas centrais, como economia e segurança, tudo estará perdido.

A última semana foi de terríveis exemplos com a falta de cuidado na comunicação: Bolsonaro deu uma entrevista exclusiva ao SBT. Tocou em diversos temas polêmicos, chegando a citar idades mínimas para a Reforma da Previdência, aparentemente contrariando sua equipe econômica; quase caiu numa armadilha de Carlos Nascimento, que perguntou sobre a instalação de uma base militar americana no país em caso de aproximação maior da Rússia com a Venezuela. O presidente, como eu disse num post anterior no Facebook, não afirmou que a base seria algo concreto. Foi tudo hipotético: pergunta e resposta. Mas só ficou claro para quem prestou atenção extrema ao contexto e às falas. Seria muito melhor que um tema tão importante fosse cortado na raiz, durante a resposta. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, teve de dizer que não tratou do tema com o presidente e desconhece qualquer informação neste sentido; Bolsonaro também gerou dúvidas em parte de seu eleitorado quando comentou sobre armas de fogo, fazendo com que o maior especialista brasileiro no assunto, Bene Barbosa, escrevesse artigo preocupado sobre o que foi dito na entrevista. Sua preocupação é a mesma que a minha neste tema.

Neste meio tempo, um vídeo envolvendo a ministra Damares Alves, do ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (para quê existe tal ministério?), sobre as cores rosa e azul, deu toda munição ao inimigo: a imprensa tradicional, a classe artística e a oposição oficial política. Evidentemente que as respostas, polemizando e se vestindo com as tais cores “proibidas”, foi, como sempre, infantil, mas tudo começa por uma afirmação que não soma em nada ao debate e não ajuda o governo. A fala da ministra, contra a ideologia de gênero na essência, ainda que bem intencionada, prejudicou direta e indiretamente a presidência, o ministro Paulo Guedes e o ministro Sérgio Moro, causando um desgaste desnecessário. Dois dias após o ocorrido, a ministra foi a um programa da Globo News dar uma entrevista longa. Falou coisas boas, outras ruins, mas, novamente, a comunicação do governo pareceu não ter um controle central.

Também na semana passada, em entrevista após a posse do novo comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Bolsonaro deu uma declaração sobre a fusão entre a Boeing e a Embraer. Novamente, por não haver clareza ou controle na comunicação, a dúvida foi jogada ao público e as ações da Embraer caíram 5%. Deu para ouvir, no vazamento do áudio antes da resposta do presidente, o próprio General Heleno dizendo: “…ih!, começaram a tergiversar, estão perguntando sobre a Boeing…”. De novo: problema criado “do nada”. O presidente também afirmou que o IOF, imposto sobre operações financeiras, subiria, levando sua própria equipe econômica, bem como o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, a desmenti-lo. Outro problema de comunicação interna e externa.

Estes vários exemplos são de seis dias efetivos de governo. É preciso, e eles sabem disso, aproveitar os 6 primeiros meses de governo, nesta fase de lua-de-mel com a população, para aprovar a Reforma da Previdência e dar paz aos ministros Moro e Paulo Guedes. Portanto, urge um cuidado maior com a comunicação, senão o governo acabará antes de ter começado, e os inimigos voltarão ao poder. Lembrem-se que a oposição atual é feita do que há de pior na política brasileira, e contam com o apoio aberto da maior parte da imprensa tradicional para, a qualquer deslize, minar o governo. Para eles, a falha deste governo de ruptura com o status quo, seria a maior vitória. E para o Brasil, esta falha, como o próprio Bolsonaro sabe, seria a maior derrota para os brasileiros que não querem saquear o próprio país.

O melhor a fazer, neste exato momento, é ficar quieto e responder com atos. Como fez o próprio governo federal ao enviar pronta ajuda ao governo do Ceará. Neste caso, deu-se o recado político, de ajuda a um governador totalmente crítico de Bolsonaro e Moro, e prestou-se ajuda à população do estado. É assim, como neste exemplo, que a comunicação do governo deveria ser feita ao longo do ano. Usar as redes para dizer o que já foi discutido e acertado nos bastidores. Parar com o clima de campanha, inclusive ignorando o Sr. Haddad, derrotado nas urnas, e focar em criar um ambiente de tranquilidade para os principais projetos do país, e não são poucos, saírem do papel. A equipe, como diz um amigo meu, é feita de excelentes indivíduos, na maioria dos casos, mas é preciso que joguem como um time entrosado, sem focar no individualismo e no desejo de chamarem a atenção da mídia ou das redes sociais.

A campanha de Bolsonaro foi histórica, e uma aula de comunicação para com o eleitorado.
No momento, é preciso profissionalismo total na área de comunicação.
Se perdermos a narrativa, a mesma que levou Bolsonaro ao poder, os inimigos tomarão o país de assalto novamente.