Faxina na Corte: cobertura da manifestação na sede da Petrobrás

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Hoje é dia de faxina na Petrobrás. Chego cedo, conheço o ambiente, vejo o estranho silêncio no entorno do imponente prédio da petroleira, parece que a qualquer momento um pedaço de feno, igual ao de um filme do velho oeste americano, vai cruzar à minha frente, em pleno Centro do Rio.
Pergunto ao jornaleiro da banca em frente como andam os ânimos dos funcionários, se ele havia notado alguma mudança no comportamento deles, no que Chico*  responde: “Muita mudança…percebo o pessoal envergonhado, desiludido”, e acrescenta: “às vezes um pessoal passa ali (aponta para a rua) e xingam eles (os funcionários) de ladrões e corruptos”; pergunto o que ele, como cidadão, acha do tal Petrolão, ele ri, olhas para os lados e diz: “Roubaram tudo né, cara?”,  e Dilma e Lula sabiam? “É claro, pô. Como é que não iriam saber?”, finaliza Chico.
 
É hora do protesto, 11:30, sol a pino, sensação de se estar numa petroleira do Oriente Médio, no meio do deserto, vejo mais jornalistas do que manifestantes, isso, porém, não diminui o simbolismo da ‘faxina’, ao contrário, torna os faxineiros em brasileiros seletos, porque tem a coragem de encarar a sujeira, como faz o juiz Sérgio Moro, por exemplo. Nós, que ficamos no conforto da limpeza, devemos aplaudi-los. Um homem com uma bicicleta ligada a uma caixa de som se junta ao ato, trazendo música – ensurdecedora – e levando um microfone aos presentes. A festa se completava. Funcionários se uniam em uma atitude: não falar, de jeito algum, com a imprensa. E se diferenciavam no comportamento de seu caminhar: corriam, paravam, passavam de cabeça baixa, erguida, zombavam da manifestação, olhavam com olhar de sutil aprovação, mas nenhum ficou indiferente. Me lembrei do trecho forte do e-mail da denunciante Venina Velosa: “Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa, passei a sentir vergonha”, noticiado semana passada.
 
Manifestantes usavam camisas com uma mão cheia de petróleo e com 4 dedos, alusão ao Lula, em famosa foto que declarava a “auto-suficiência brasileira”, que ainda estamos esperando; uma jornalista do jornal O Globo tentava, de alguma forma, diminuir a importância dos presentes, o que foi comprovado com trechos, de sua reportagem, em que diz, em tom sarcástico, que uma das manifestantes tinha um “brinco de pérola”, e que um outro havia levado sua funcionária doméstica, que por sua vez mostrava-se animada de estar ali protestando pela 1ª vez em sua vida, cansara de assistir tudo com as mãos limpas, mas a repórter queria deixar claro que era um protesto da “elite”. Se assim o fosse, sorte a do Brasil em ter uma elite preocupada com as consequências desses desvios bilionários aos mais pobres. Mas não era.
Ao meu lado, um trio de funcionários dizia que “a mídia tá querendo mermo destruir a porra da nossa empresa”. Há sempre aqueles que compram o discurso do governo. Existia na Roma antiga, na Berlim nazista e existe no Brasil petista. É o mesmo PT que vociferava que o PSDB queria privatizar a Petrobrás. O PT já o fez, só que para os amigos íntimos e doleiros de confiança. 
Enquanto se julgava o Mensalão, o Petrolão ia de vento em popa. Enquanto eram chamados de ‘marginais do poder’, pelo ministro Celso de Mello, os mesmos bandidos, em especial o chefe Zé Dirceu, continuavam batendo carteira dos contribuintes brasileiros.
 
Somente ontem, a Petrobrás perdeu 25% no acumulado e, em determinado momento, a Bovespa parou suas atividades, por conta da forte queda da empresa. Com balanço financeiro não divulgado, e sem auditoria, sendo investigada nos EUA, na Europa e aqui no Brasil, a Petrobrás sangra, ou melhor, vaza. Enquanto isso, os manifestantes esfregam seus produtos de limpeza no chão pegando fogo do Centro, limpam as grades, explicam em inglês o que estão fazendo a turistas que passavam, ignoram os olhares de deboche, os jornalistas mal intencionados e seguem, como a estilista Adriana Balthazar, buscando um país melhor para seus filhos. Sem medo de sujar as mãos para limpar a obra dos corruptos.

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