Até quando?

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Não há palavras que consigam expressar o tamanho da traição dos seis ministros do STF, ontem, que destruíram a prisão após 2a instância. 5 anos após o início da operação Lava Jato, uma das poucas vitórias significativas dos brasileiros em décadas, Gilmar Mendes, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli a enterraram. O tribunal que deveria ser nosso maior guardião nos apunhalou pelas costas, ao vivo, em rede nacional. Depois, provavelmente foram tomar um bom vinho em algum restaurante chique de Brasília. Juntos dos seus, devem ter ridicularizado o brasileiro comum, que paga seus salários astronômicos, e que acha que bandido deve ser preso.

A namoradinha de Lula, serelepe, comemorou. Fez juras públicas de amor. Há pouco, Lula recebeu a notícia de que poderá aguardar os recursos em liberdade. Os bajuladores daquele tal DJ preso por associação ao tráfico, também comemoram. No último Prêmio Multishow de “música” brasileira, os fetichistas lhe deram um dos prêmios. Não há lacre maior do que venerar bandido. Grande parte da imprensa está em êxtase. Como se fossem ingênuos e nos tirando por idiotas, já produzem matérias com as possibilidades de Lula não só livre, mas candidato. Democraticamente, com menos ódio e mais amor, querem restaurar seu projeto de poder autoritário.

Quem não pode beber vinho caro, e muito menos ficar ouvindo funkeiro do tráfico, são as vítimas dos crimes bárbaros que ocorrem no Brasil real. O Brasil que está além do Baixo Gávea é ameaçado por traficantes e milicianos, pelo crime organizado ou desorganizado; este Brasil real nada em seu próprio sangue, e tem de conviver, no próprio bairro, com assassinos e estupradores de seus familiares livres, leves e soltos; por aqui, os maus são e serão exaltados. Os bons não têm vez. Nossos voos de galinha, enquanto sociedade, são abatidos no ar por pistoleiros togados impiedosos. Bom policial, não investigue. Bom promotor, não perca seu tempo indo atrás de fora-da-lei. Bom juiz, feche os olhos para a realidade — este é o recado do maior tribunal aos nossos soldados no front.

Um ano após um presidente esfaqueado ser eleito para (ao menos tentar) dar voz a este país silenciado por décadas, pouco mais de um ano após o ex-presidente Lula ir para o AirBnb da Polícia Federal, e ignorando as dezenas de manifestações anti-corrupção, os milhões de brasileiros indignados que marcharam por vários domingos, estes excelentíssimos canalhas do STF mostram de que lado estão — mais uma vez.

De tanto pensarem que são semi-deuses, acreditam que estarão imunes ao Brasil real indignado. Acreditam que serão tolerados eternamente. “Até quando abusarás de nossa paciência”, perguntava-se Cícero. Estes ministros parecem respondê-lo com um sonoro e uníssono: “Até quando a gente quiser, seus otários”.