All-in: Bolsonaro vai para o tudo ou nada.

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O discurso proferido pelo presidente da República, ontem à noite, foi um verdadeiro “all-in”: jogada do poker onde o jogador vai para o “tudo ou nada”.

Me parece, e posso estar errado, que a estratégia política — arriscadíssima — de Bolsonaro, é contar com que o novo coronavírus não cause tantas mortes no Brasil, como vem fazendo no norte da Itália.

Ele crê que, numa economia fortemente mantida pela informalidade, o desespero econômico, social e psicológico da população não há de aguentar por muito tempo dentro de casa.
Ele aposta, também, que entre o temor do vírus ou o horror das dívidas, grande parte do país optará por ‘pagar pra ver’: entre o COVID-19 e a fome, melhor morrer pelo primeiro, em última instância.

O presidente, a meu ver de uma forma precoce, parece estar antecipando que, quando este caos social acontecer, as pessoas irão culpar e odiar os que, agora, pregam o pânico ou uma cautela com o desconhecido, dependendo do seu ponto de vista: a imprensa e os governadores.

Neste momento de incertezas, a velha e boa televisão voltou a trazer conforto e informação à população amedrontada — ao menos, por enquanto. São 24h de cobertura, com dados, gráficos, especialistas, correspondentes, e todo aparato técnico, caríssimo, que nenhum ‘influenciador’ das redes conseguiria comprar. Claro que, com todo mundo em casa, a audiência sobe, e a arrecadação com publicidade, idem. O fenômeno não é exclusividade nossa, ocorre no mundo todo. E os governadores, por responsabilidade ou motivação política, novamente dependendo do seu ponto de vista, fazem de tudo para dar respostas à imprensa.

Bolsonaro deve estar apostando que este romance temporário entre a população e a imprensa, acabe. Dentro de algumas semanas. Ou meses.
Paradoxalmente, o presidente chamado de radical, diariamente, parece torcer para que seja lembrado, em breve, como alguém que foi moderado, quando todos se apavoravam.

Tal forma de se posicionar, na minha opinião, é extremamente arriscada, ao menos no momento atual, pois se o número de mortos for alto, acredito que Bolsonaro, além de perder o poder, não se perdoará, bem como a História. Afinal, são vidas brasileiras que estão em jogo. Este debate, do “voltamos à ativa com limitações” ou “fiquemos em confinamento sabe-se Deus até quando”, não precisaria acontecer agora. E quando fosse feito, não deveria ser da forma que foi, com toques de ironia e provocações.

De qualquer forma, saberemos, dentro de alguns meses, o desfecho dessa “aposta”.