“A Amazônia é o jardim do quintal”

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1992
(Foto: Marcelo Fonseca/Folhapress)
Não há aviões C-130 Hércules, capazes de disparar 12 mil litros de água, páreos para uma cantora famosa rebolando de lingerie para salvar a Amazônia em chamas. Mais do que milhares de água caindo fervorosamente dos céus, como na “Súplica Cearense”, famosa na voz de Luiz Gonzaga, o fogo foi combatido por uma filha de atriz global, “mentalizando” o sofrer da floresta enquanto praticava — e documentava num ângulo milimetricamente pensado — yoga. Um cantor, poeta viciado em Coca-Cola, desfilava na Av. Vieira Souto, seu quintal, com burgueses socialistas — e livres. O movimento era “apartidário”. Um boneco inflável gigantesco com os dizeres “Lula Livre” foi apenas uma feliz coincidência. Num movimento de perdidos, não me surpreenderia se o balão fosse o achado.
 
Mas a atração principal de um circo é sempre o palhaço: um presidente francês virou expert em floresta tropical. Junto de seus pares desenvolvidos, deve ao Brasil bilhões de reais, prometidos pelos próprios no acordo de Paris, de 2015. Defender o ambiente de graça é sempre bom. Quando custa bilhão, como diria Ciro Gomes, a coisa muda de figura. Para agradar sua trupe de fãs, ofertou uma esmola ao Brasil — 20 milhões — para quem deve bi, é de deixar até os Odebrecht envergonhados. Mas o artista circense foi além: afirmou que parte do território brasileiro é “do mundo”, o “pulmão do planeta”, e outras frases lindas para Instagram. Contou com o apoio irrestrito da oposição brasileira. A mesma trupe que brada “O petróleo é nosso”, enviaria a Amazônia por FedEx (porque os Correios não funcionam) ao Macron, só pra “ir contra tudo que está aí”.
 
Digam o que disserem, se há algo que o Exército Brasileiro entende mais do que os meros mortais, é de Amazônia. O próprio ministro do GSI, Gen. Heleno, morou por lá durante anos. Entre sua opinião e a da top-model que mora na 5a Avenida, fico com a dele. Duvido que um soldado raso ou general atearia fogo num arbusto qualquer para prejudicar este ou aquele político. Mas quando leio reportagem da revista Globo Rural sobre um(a) morador(a) acusando agentes do ICMBio por incêndio criminoso, não duvido. Infelizmente, não duvido.
 
De reitores de universidades a agentes na ponta de lança, o clima é de boicote ao presidente fascista. Aliás, o melhor e mais original cartaz destas manifestações foi direto ao ponto: “Queime fascistas, não florestas”. Gostaria de cumprimentar o autor pela sinceridade. É disso que se trata: não de florestas, não de soberania, não de sexismo, de valores ou moral. Trata-se do simples ato de não conseguir compreender e permitir ao povo brasileiro, que democraticamente foi às urnas, 4 anos de um governo (com defeitos apontados por seus próprios eleitores, diariamente) que não seja de esquerda. É uma birra coletiva em proporções mastodônticas.
 
Evidentemente, a comunicação do governo não ajuda. Aliás, incendeia. Não que um outro governo de direita tivesse vida fácil, jamais. Mas seria menos traumático. Acho que as críticas bem-intencionadas ao presidente, e a esta ou aquela ação, devem ser respeitadas. Todo governo deve ser vigiado, jamais o contrário. Sorte a deste que a oposição consegue ser pior, muito pior. O que entristece é ver mais uma causa justa, a defesa da Amazônia, ser sequestrada e ridicularizada pelos paladinos da justiça social. Tão logo, como conseguiram com a homofobia e o racismo, toda e qualquer denúncia séria sobre crimes na Amazônia será tratada como blefe. E quando não for blefe, lembrem-se de quem luta contra toda e qualquer punição para criminosos; do que incendeia ou assassina — afinal, são apenas “vítimas da sociedade”.
 
Na França ou no Baixo Gávea, só quem ganhou com as chamas foram os políticos populistas. E as celebridades que mentalizaram a Amazônia fazendo yoga na cobertura.
Como sempre, quando o calor dos acontecimentos arrefecer, estarão lá, no meio da floresta, incógnitos, os verdadeiros heróis apagando o fogo. E algo me diz que não postarão fotos nas redes sociais para ganhar likes.